Ciência Ancestral
A Amazônia de hoje é a colheita de um cultivo milenar. Essa sociobiodiversidade única é uma joia lapidada por mais de 12 mil anos, período em que os povos amazônicos ajudaram a semear a maior floresta tropical do planeta e deixaram como herança conhecimentos e culturas tradicionais, como o açaí e a terra preta de índio, um dos solos mais férteis do mundo.
Para a arqueologia, a América do Sul é uma espécie de laboratório pelo fato de ter sido o último continente a ser ocupado no planeta, com uma população que manipulou plantas e domesticou diversas espécies em abundância.
Eduardo Neves, em seu livro “Sob os tempos do Equinócio”, afirma que esse é o caso da Amazônia, que abrigou indígenas com modos de vida baseados no consumo combinado de plantas domesticadas, plantas não domesticadas e animais, com alternância na importância relativa desses componentes selvagens e naturais ao longo das gerações.
Essas tecnologias ancestrais apresentam uma nova perspectiva da relação entre humanos e não humanos:
A possibilidade de coexistência, na qual os humanos têm um papel fundamental na manutenção e na produção de uma diversidade biocultural e no manejo da abundância.
Nesta sala, trazemos evidências de que não há melhores especialistas na arte de proteger a biodiversidade que os povos tradicionais. Ricos e valiosos saberes ancestrais que se traduzem em práticas e tecnologias como a medicina tradicional, o extrativismo e a agricultura indígena: a cultura do bem viver.
Para os Baniwa, povo indígena que vive no Rio Negro, no Amazonas, o bem viver está em tudo e em cada pequena ação. É o que inspira a luta pela ancestralidade, pela autonomia e por direitos – que é, também, a luta pela Amazônia. Não à toa, na língua Baniwa, a expressão ‘bem viver’ vem de ‘ipedzokhetti’, palavra que, traduzida para o português, significa amor. Essa é a base da ciência ancestral.
Os primeiros
amazônidas
A Amazônia é milenar, assim como os povos que a habitam. Há 15 mil anos, grupos de coletores-caçadores já viviam em grandes rochas e cavernas e, ao longo dos milênios, se espalharam por todo o bioma.
Descobertas recentes da arqueologia revelam que, no século X, os amazônidas já eram mais de 10 milhões de pessoas. Sociedades avançadas, como as Cidades Jardins do Xingu, que se destacavam pelo urbanismo, pelo manejo da biodiversidade e pelo tamanho.
De técnicas desenvolvidas para facilitar a caça, a pesca e o manejo de plantas e da terra, a ferramentas e utensílios do dia a dia, tudo é fruto dos saberes ancestrais que ajudaram os primeiros povos indígenas a fertilizar a Amazônia para a colheita das gerações que estavam por vir.
Arqueologia amazônica:
a história revelada pela ciência
A arqueologia é a ciência que nos permite recontar, por meio de fragmentos materiais que sobreviveram ao tempo e à ação humana, a história de sociedades e culturas amazônicas ao longo dos séculos e milênios. As pinturas, gravuras e grafismos aplicados em vasos, jarros e urnas cerâmicas revelam uma Amazônia bem mais sofisticada do que conhecíamos até bem pouco tempo.
A presença de fragmentos cerâmicos com padrões e grafismos semelhantes em locais ocupados por povos ceramistas que viviam a centenas de quilômetros uns dos outros – nos rios Madeira, Negro, Amazonas e Napo, no Peru -, comprova que, além de densamente povoada, a Amazônia tinha populações que adotavam sistemas avançados de comunicação, gestão de seus territórios, relações de trabalho e redes de relacionamentos com outros povos do território amazônico.
Mergulhar na arqueologia nos permite conhecer um passado onde a densa floresta tropical não impedia as sociedades amazônicas de viverem de forma integrada, compartilhando conhecimentos, tecnologias e soluções para os desafios de seus tempos. E traz à tona a necessidade de conhecermos e reconhecermos esses povos, culturas e saberes para enfrentarmos os desafios de nosso tempo.
Os primeiros
amazônidas
A Amazônia é milenar, assim como os povos que a habitam. Há 15 mil anos, grupos de coletores-caçadores já viviam em grandes rochas e cavernas e, ao longo dos milênios, se espalharam por todo o bioma.
Descobertas recentes da arqueologia revelam que, no século X, os amazônidas já eram mais de 10 milhões de pessoas. Sociedades avançadas, como as Cidades Jardins do Xingu, que se destacavam pelo urbanismo, pelo manejo da biodiversidade e pelo tamanho.
De técnicas desenvolvidas para facilitar a caça, a pesca e o manejo de plantas e da terra, a ferramentas e utensílios do dia a dia, tudo é fruto dos saberes ancestrais que ajudaram os primeiros povos indígenas a fertilizar a Amazônia para a colheita das gerações que estavam por vir.
Arqueologia amazônica:
a história revelada pela ciência
A arqueologia é a ciência que nos permite recontar, por meio de fragmentos materiais que sobreviveram ao tempo e à ação humana, a história de sociedades e culturas amazônicas ao longo dos séculos e milênios. As pinturas, gravuras e grafismos aplicados em vasos, jarros e urnas cerâmicas revelam uma Amazônia bem mais sofisticada do que conhecíamos até bem pouco tempo.
A presença de fragmentos cerâmicos com padrões e grafismos semelhantes em locais ocupados por povos ceramistas que viviam a centenas de quilômetros uns dos outros – nos rios Madeira, Negro, Amazonas e Napo, no Peru -, comprova que, além de densamente povoada, a Amazônia tinha populações que adotavam sistemas avançados de comunicação, gestão de seus territórios, relações de trabalho e redes de relacionamentos com outros povos do território amazônico.
Mergulhar na arqueologia nos permite conhecer um passado onde a densa floresta tropical não impedia as sociedades amazônicas de viverem de forma integrada, compartilhando conhecimentos, tecnologias e soluções para os desafios de seus tempos. E traz à tona a necessidade de conhecermos e reconhecermos esses povos, culturas e saberes para enfrentarmos os desafios de nosso tempo.
Conheça as tecnologias ancestrais da Amazônia
Mandioca
(Manihot esculenta)
Iguarias muito tradicionais no Pará, como o tucupi, a tapioca e a farinha, têm algo em comum: os três vêm da mandioca. Natural da Amazônia, é considerada uma ‘árvore da providência’, pois todas as suas partes têm algum aproveitamento. A planta in natura pode ser comida cozida; o tubérculo processado dá origem à farinha; as folhas são a matéria-prima da maniçoba; e, das raízes, são extraídos a tapioca e o tucupi. Outras partes ainda são aproveitadas na produção de bebidas alcoólicas e biocombustíveis. No Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, os indígenas cultivam mais de 30 variedades de mandioca.
Crédito do áudio: Bonifácio Baniwa é uma liderança indígena natural de São Gabriel da Cachoeira, estado do Amazonas, com longa experiência em articulação regional e política
Castanha do Pará (Bertholletia excelsa)
Uma das três mais importantes culturas da Amazônia, responde por mais de 85% da economia baseada em produtos da biodiversidade em Mato Grosso, Roraima e Acre. De uso versátil, as sementes podem ser consumidas in natura ou torradas, além de serem empregadas na fabricação de farinhas, doces e sorvetes. O óleo extraído da castanha-do-pará também pode ser utilizado na indústria de cosméticos e na fabricação de tintas e seus resíduos nas indústrias de bioplásticos e biocombustíveis.
Crédito do áudio: Kokoro Mekranotire é guerreiro kayapó que mora na aldeia Kunbekakre,na Terra Indígena Mekragnotire, em Mato Grosso.
Milho
(Zea mays)
A importância econômica do milho é caracterizada pelas diversas formas de sua utilização, que vai desde a alimentação animal – que corresponde a 70% consumo global – até a indústria de alta tecnologia. O uso do milho em grão e seus derivados para a alimentação humana é relevante, especialmente, em regiões de baixa renda. Na Amazônia, além do milho amarelo, cultivado para consumo e comercialização por pequenos agricultores, há ainda uma variedade de espécies de sementes tradicionais repassadas de geração a geração como um verdadeiro patrimônio genético: são mais de 13 espécies diferentes, segundo o Iphan.
Crédito do áudio: Chirley Pankará é pedagoga indígena, mestre em Educação e doutoranda em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP).
Pequi
(Caryocar brasiliense)
Fruto comum do Cerrado, encontrado também em boa parte da Amazônia, o pequi tem múltiplos usos pelas populações tradicionais. Na alimentação ele é um recurso muito importante, uma vez que pode ser armazenado por um longo período dentro da água, além de poder ser consumido em tempos de seca – após secagem no sol ou no fogo. O óleo de pequi é usado por povos indígenas como repelente de insetos nas pescarias, mas também pode ter outros usos pela bioindústria, como para a produção de hidratante corporal ou tintura, quando misturado ao urucum. Sem falar na gastronomia: ele é a estrela de pratos tradicionais como o arroz com pequi.
Crédito do áudio: Helena Maxy Apinajé é anciã de seu povo e moradora da aldeia Botica, na Terra Indígena Indigena Apinaje, em Tocantins. Ela é das mulheres conhecedoras do processo tradicional de produção do óleo de pequi e tenta ensinar os indígenas mais jovens.
Cogumelos Yanomami
Os Sanöma, um subgrupo do povo Yanomami que habita a região de Awaris, nas florestas de montanha da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, cultivam mais de 10 espécies diferentes de cogumelos há milênios. Usados como alternativa alimentar para a carne de caça ou pesca, os cogumelos Sanöma são um produto do Sistema Agrícola Tradicional Yanomami, reconhecido como Patrimônio Cultural pelo Iphan. Resultado de um profundo conhecimento da ecologia e do manejo da floresta, o Cogumelo Yanomami possui potencial benéfico para a saúde.
Crédito do áudio: Mauricio Yekwana é uma liderança do povo Ye’kwana e morador da região de Auaris, dentro da Terra Indígena Yanomami, o maior território demarcado do Brasil.
Pimentas Baniwa
O cultivo das roças é uma prática milenar entre os Baniwa e, normalmente, de responsabilidade das mulheres. São elas que cultivam, de maneira orgânica, as variedades de pimentas que, desidratadas e moídas, dão origem à pimenta Baniwa Jiquitaia – batizada em homenagem à minúscula, mas de picada dolorida, espécie de formiga. Os cultivos, feitos em quintais e roças comunitárias na região do Rio Içana, no Amazonas, seguem o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, declarado Patrimônio Cultural pelo Iphan em 2010.
Crédito do áudio: Andre Baniwa é liderança do povo baniwa, estimados em cerca de 12 mil espalhados por aproximadamente 200 comunidades na divisa entre a Amazônia brasileira, Colômbia e Venezuela. Ele atua como professor, escritor e ativista indígena.
Conheça as tecnologias ancestrais da Amazônia
Mandioca
(Manihot esculenta)
Iguarias muito tradicionais no Pará, como o tucupi, a tapioca e a farinha, têm algo em comum: os três vêm da mandioca. Natural da Amazônia, é considerada uma ‘árvore da providência’, pois todas as suas partes têm algum aproveitamento. A planta in natura pode ser comida cozida; o tubérculo processado dá origem à farinha; as folhas são a matéria-prima da maniçoba; e, das raízes, são extraídos a tapioca e o tucupi. Outras partes ainda são aproveitadas na produção de bebidas alcoólicas e biocombustíveis. No Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, os indígenas cultivam mais de 30 variedades de mandioca.
Crédito do áudio: Bonifácio Baniwa é uma liderança indígena natural de São Gabriel da Cachoeira, estado do Amazonas, com longa experiência em articulação regional e política
Castanha do Pará (Bertholletia excelsa)
Uma das três mais importantes culturas da Amazônia, responde por mais de 85% da economia baseada em produtos da biodiversidade em Mato Grosso, Roraima e Acre. De uso versátil, as sementes podem ser consumidas in natura ou torradas, além de serem empregadas na fabricação de farinhas, doces e sorvetes. O óleo extraído da castanha-do-pará também pode ser utilizado na indústria de cosméticos e na fabricação de tintas e seus resíduos nas indústrias de bioplásticos e biocombustíveis.
Crédito do áudio: Kokoro Mekranotire é guerreiro kayapó que mora na aldeia Kunbekakre,na Terra Indígena Mekragnotire, em Mato Grosso.
Milho
(Zea mays)
A importância econômica do milho é caracterizada pelas diversas formas de sua utilização, que vai desde a alimentação animal – que corresponde a 70% consumo global – até a indústria de alta tecnologia. O uso do milho em grão e seus derivados para a alimentação humana é relevante, especialmente, em regiões de baixa renda. Na Amazônia, além do milho amarelo, cultivado para consumo e comercialização por pequenos agricultores, há ainda uma variedade de espécies de sementes tradicionais repassadas de geração a geração como um verdadeiro patrimônio genético: são mais de 13 espécies diferentes, segundo o Iphan.
Crédito do áudio: Chirley Pankará é pedagoga indígena, mestre em Educação e doutoranda em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP).
Pequi
(Caryocar brasiliense)
Fruto comum do Cerrado, encontrado também em boa parte da Amazônia, o pequi tem múltiplos usos pelas populações tradicionais. Na alimentação ele é um recurso muito importante, uma vez que pode ser armazenado por um longo período dentro da água, além de poder ser consumido em tempos de seca – após secagem no sol ou no fogo. O óleo de pequi é usado por povos indígenas como repelente de insetos nas pescarias, mas também pode ter outros usos pela bioindústria, como para a produção de hidratante corporal ou tintura, quando misturado ao urucum. Sem falar na gastronomia: ele é a estrela de pratos tradicionais como o arroz com pequi.
Crédito do áudio: Helena Maxy Apinajé é anciã de seu povo e moradora da aldeia Botica, na Terra Indígena Indigena Apinaje, em Tocantins. Ela é das mulheres conhecedoras do processo tradicional de produção do óleo de pequi e tenta ensinar os indígenas mais jovens.
Cogumelos Yanomami
Os Sanöma, um subgrupo do povo Yanomami que habita a região de Awaris, nas florestas de montanha da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, cultivam mais de 10 espécies diferentes de cogumelos há milênios. Usados como alternativa alimentar para a carne de caça ou pesca, os cogumelos Sanöma são um produto do Sistema Agrícola Tradicional Yanomami, reconhecido como Patrimônio Cultural pelo Iphan. Resultado de um profundo conhecimento da ecologia e do manejo da floresta, o Cogumelo Yanomami possui potencial benéfico para a saúde.
Crédito do áudio: Mauricio Yekwana é uma liderança do povo Ye’kwana e morador da região de Auaris, dentro da Terra Indígena Yanomami, o maior território demarcado do Brasil.
Pimentas Baniwa
O cultivo das roças é uma prática milenar entre os Baniwa e, normalmente, de responsabilidade das mulheres. São elas que cultivam, de maneira orgânica, as variedades de pimentas que, desidratadas e moídas, dão origem à pimenta Baniwa Jiquitaia – batizada em homenagem à minúscula, mas de picada dolorida, espécie de formiga. Os cultivos, feitos em quintais e roças comunitárias na região do Rio Içana, no Amazonas, seguem o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, declarado Patrimônio Cultural pelo Iphan em 2010.
Crédito do áudio: Andre Baniwa é liderança do povo baniwa, estimados em cerca de 12 mil espalhados por aproximadamente 200 comunidades na divisa entre a Amazônia brasileira, Colômbia e Venezuela. Ele atua como professor, escritor e ativista indígena.